De todos os temas que já abordei aqui, acredito que este seja o mais ‘diferente’. Há tempos que venho querendo trazer temas que estejam ligados ao meu outro lado e profissão, pra quem ainda não sabe sou formada em História e poder trabalhar com moda e história (minhas duas paixões assumidas) é algo extraordinário. O tema surgiu de uma ideia louca após uma aula sobre arte Barroca, que me fez no caminho de volta até minha casa e momento de reflexão diário, pensar neste tema e tudo o que o envolve.

      O blog surgiu antes de qualquer coisa para ser um espaço de compartilhamento, de ideias, de dicas, de tudo aquilo que envolve o universo feminino e que acredito ser viável compartilhar. Nunca foi um espaço para ‘look do dia’, até evito fazer postagens deste tipo por aqui, pois a moda não se resume a isso. Mas ainda assim as pessoas querem ver, ver o que eu visto, o que eu como, o que eu uso, esse estilo de vida meio ‘big brother’ é viciante e faz sucesso no mundo virtual, e confesso que me deixa abismada, mas afinal por que isso acontece?

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      O Barroco é citado em grande parte como sendo um estilo/movimento artístico que possuiu duas fortes características: A ostentação e o exagero. Sempre que trabalho com este tema em sala de aula, gosto de esclarecer a seguinte questão: Não foi apenas um movimento artístico e sim, cultural. Sim, a cultura barroca. Pode afirmar sem medo e claramente: Cultura Barroca, e digo mais, ela não “existiu”, ela existe.

Ao explicar para crianças do ensino fundamental que ostentar é diferente de possuir riquezas, expliquei a eles o sentido da palavra ostentação na cultura barroca. Para ostentar você não precisa ser rico, basta parecer rico. 

Afinal, ainda não vivemos a cultura do barroco?

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      Temos empresas especializadas em reproduzir réplicas perfeitas de bolsas de grife, se existe empresa investindo dinheiro nisto, significa que existe público para comprar. Temos inúmeros casos de pessoas vendendo órgãos para comprar o telefone de melhor tecnologia do mercado. Temos infinitos casos de famílias que se endividam e muitas vezes deixam até de comer para obter utensílios supérfluos. Fila de espera para compra de bolsa que custa 32 mil dólares. Milhões de seguidores em perfis de instagram que querem ver “looks do dia”.

Na moda não é diferente. Você é o que você veste ou você veste o que você é? Quantos de nós não já julgamos uma pessoa pela sua vestimenta?  Quantos não já quiseram ou mesmo compraram o ‘tal’ sapato/bolsa/acessório da moda, somente para estar ‘dentro’ da moda e ser aceito por um seleto grupo? Se você não tem, você não está na moda, correto?

Sim amoras, vivemos numa sociedade barroca e a moda não poderia deixar de sofrer essa influência. Cada vez mais o exagero está presente nela e ostentar a moda tornou-se quase que uma obrigação das pessoas. Você é o que você veste e você tem que ter algo para ostentar, para ‘parecer ser’ alguma coisa que na verdade nunca foi.

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Eis que chegar até aqui e não citar os blogs de moda e suas digníssimas blogueiras é um pecado, concordam? Blogueira de moda tem que ter ‘look do dia’, ponto. Se você for uma blogueira que fale sobre moda ou sobre qualquer outra besteira do universo feminino e não tiver o tal do ‘look do dia’, você não é blogueira. (sentiram a ironia e sarcasmo? hahaha)

Quer figurinha mais taxada e com características barrocas que a blogueira? Ela está sempre impecável, não tem olheira, unha sem fazer, café da manhã ‘feio’, ‘look do dia’ mais ou menos. Está sempre levando uma vida de rainha, vive sendo fotografada e recebendo presentes, correto? Será que elas vão ao banheiro? Eis a questão.

Não gente, eu não tenho essa vida e eu conheço outras milhões de blogueiras que também não possuem essa vida, inclusive aquelas beeem famosas que todo mundo sabe os nomes 😉 Mas tenho uma pergunta: Alguém aqui quer ver blogueira pegando ônibus? Lavando uma pia cheia de pratos? Fazendo feira do mês no supermercado? Limpando privada?!

Não. As pessoas querem ver aquilo que lhes é agradável, aquilo que não possui em casa. O closet com 87 bolsas, os sapatos Louboutin, os carros importados, as viagens para o exterior, as produções de maquiagem com os produtos mais ‘tops’, sabe por quê? Vivemos, ou melhor, respiramos o barroco! No fundo, muitos de nós gostariam de ter o mesmo que os outros estão exibindo, só para poder exibir também.

Este texto é em parte uma crítica, uma crítica até mesmo a mim, pois sou fruto do barroco também, afinal cresci vivenciando tudo o que citei acima. Mas antes de crítica é uma explanação, compartilhamento do que penso, do que vivencio e que queria muito dividir com todas as leitoras do blog. 🙂

Escrito por

laisalves

Formada história, professora, modelista e agora blogueira.
Acompanhe minhas postagens sobre temas ligados ao
universo da moda e beleza.